quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


Colecção Bernardo, um projecto alternativo.

Segundo o ICOM o Museu é "...uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade...".

Claro que tudo isto seria válido se o Museu Bernardo fosse uma Instituição que vivesse apenas da sua colecção, o que não acontece de todo. Pedro Bernardo tem criado, através de um planeamento curatorial, um trabalho decididamente voltado para a educação, devidamente identificando as peças e contextualizando o material exposto com informações  sobre as mesmas no seu blogue, acessíveis ao visitante médio, e providenciando acções educativas complementares variadas. No fundo, e ao contrário do que ele próprio desejaria, está a caminhar para a definição do ICOM, mas será que ele quer chegar lá?????

O Museu Bernardo é, acima de tudo, um espaço de debate de ideias e que  tem construído uma colecção. Este tipo de Instituições mais alternativas surgiu no Centro da Europa nos anos 60 quando os vários artistas emergentes não conseguiam ultrapassar as barreiras dos Museus tradicionais e não tinham forma de poder integrar os circuitos das grandes exposições e assim meteram mãos á obra e criaram eles mesmos os seus "museus".

O templo das musas assume hoje dimensões extremamente variadas e abrangentes. Walter Benjamin acreditava que os museus são "espaços que suscitam sonhos"; André Malraux, pensava que os museus são locais que "proporcionam a mais elevada ideia do homem".

Há muitos anos atrás o meu professor de História de Arte disse-nos que " Arte era Ver, Ver, Ver e voltar a  Ver", frase esta que terá sido proferida  pela dupla Gilbert & George na sua famosa  Ode to Arte. No fundo experienciar. Não no sentido de Ver "retiniamente"(como terá criticado Duchamp), mas Ver no sentido da experienciação. E é com essa atitude que gostava de vos convidar a "olhar" para esta exposição, de uma maneira viva.

Entrar no edifício do Museu Bernardo nas Caldas da Rainha é sempre um acto de "estar com a Arte" e não "Ver" Arte, e talvez seja este o grande segredo do Pedro Bernardo. O Colecionador não cria exposições onde as pessoas apenas circulam e teem uma atitude passiva de comentadores das obras; o que ele tem criado ao longo destes anos são cenários onde podemos vivenciar experiências, quer retinianas quer outras. E são estas outras que me interessam, por isso espero que ao visitarem esta exposição da Colecção do Museu Bernardo, mais do que vir Ver Obras de Arte e integrá-las nas suas categorias estéticas, olhem para estas peças como símbolos de um notável trabalho feito pelo Museu Bernardo ao longo destes últimos anos numa cidade que tem uma escola de Artes e um Centro Cultural que estão voltados de costas um para o outro.
Tem sido  este agitador cultural com o seu trabalho de formiga que, ao longo dos anos, tem construído uma colecção notável e tem-se rodeado de Artistas, Curadores, Professores, Curiosos, Dandys, Coleccionadores, Galeristas, enfim um verdadeiro Centro de Ideias Criativas.

Por tudo isso garanto que ao visitar esta exposição o que irão encontrar, ao contrário do que possam pensar, não serão pinturas, fotografias, desenhos, vídeos, apesar de estarem presentes, o que irão encontrar são Questões, Questões partilhadas pelos artistas que nos interrogam com os seus trabalhos e tem sido esse também o material de trabalho do Pedro Bernardo, interrogar-nos incessantemente com a sua maneira de estar na Arte. Ele não se limitou a fazer uma colecção para ter no Museu, quer seja exposta quer nas suas reservas. Não. Aquilo que o Pedro tem feito, e que continua a fazer, é convidar-nos a entrar no mundo da arte; é trazer esse mundo para o cidadão comum.

Desafio todos aqueles que gostam ou não de arte, a olhar para estas peças e a questionarem-nas. Digam mal, sejam incisivos, mas por favor aproveitem cada uma para discutir ideias, para, no fundo, VIVER. Podem ter a certeza que o Pedro e o Museu Bernardo agradecem porque esta colecção e o seu projecto são uma Ode à Arte, são uma Ode à Vida.

Geralmente eu nunca leio estes textos de entrada, por isso desçam rapidamente as escadas e aí encontrarão dois personagens a acolher-vos/interrogar-vos como duas figuras de convite.
SEJAM BEM-VINDOS À COLECÇÃO BERNARDO!

apm

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