quinta-feira, 18 de março de 2010

Jorge Feijão na Casa Bernardo

Entramos pelo páteo de uma casa envelhecida numa rua escondida
na confusão da cidade. Piso térreo, janelas e portadas quebradas
pelo sol, um caminho estreito. Entramos. Na intimidade da casa,
dos quartos, da antiga cozinha, subimos ao sótão, descemos
à cave. As paredes acusam a humidade da terra e o telhado
o peso da gravidade. Acendemos a lareira. Vamos ao jardim.
Falamos com as pessoas que ocuparam o espaço, do trabalho já
feito, das obras expostas e por expôr. São artistas alguns,
curiosos e amadores outros, mas acima de tudo, são amigos.
Amigos do projecto e do seu principal responsável, Pedro
Bernardo, fundador e criador do Museu Bernardo, dois anos
antes. Conversamos. Sobre arte, projectos e vontades. Surge a
associação para apoiar, defender e divulgar arte contemporânea
e criar um espaço de convívio e intervenção cívica que
reduza e questione o hiato entre a arte e a vida. Agradecemos
profundamente a cedência desinteressada dos donos da casa. E,
nesse espaço improvável de criação, de partilha entre o artista
e o público, os artistas e a terra, começamos lentamente a
avançar nessa direcção, entrando sem auras nem delongas, na
intimidade da prática do fazer artístico.
A casa aparece despida na sua simplicidade, sem artifícios
ou grandes espectáculos. E, na singularidade do espaço e dos
encontros que ele nos proporciona, são as obras que fazem o
espaço e não o espaço que faz as obras. E, talvez por isso, a
desordem e o diálogo que estabelecem entre si façam parte deste
nosso tempo que atravessamos.
Inaugura-se a casa com a exposição do Jomi. Aqui, na Casa,
no Centro Cultural e de Congressos e no Centro de Artes, é
curioso que “Le Regard” de Jorge Feijão, nos obrigue a um olhar
pela cidade e pelas suas instituições e nos obrigue, no rigor
laborioso com que criou a exposição, a um diálogo com a própria
geografia da cidade. Trabalho aturado que nos interpela pela
tensão do gesto no longo vazio da tela.
Ao lado do CCC e do Centro de Artes, a casa cresce e com ela,
o desejo de futuras e profícuas relações, exposições, mais trabalho, mais gente, mais amigos. Para arriscar pontes. Com todos.


Jorge Feijão na Casa Bernardo Sábado dia 20 de Março 2010, 21.30

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