



fotografias Paula Nobre
“SITIO” refere-se a um lugar. Esse lugar era o Matadouro Municipal de Caldas da Rainha, desenhado por Rodrigo Berquó em 1891 e inaugurado em 1894.
Quando lá entrei pela primeira vez em 1988, para fotografar, acompanhei os animais desde a sua entrada passando pelo abate, desmancho e saída para os talhos. Era uma arquitectura tão higiénica como feérica. Balidos misturados com vozes humanas, um cheiro adocicado a sangue e fezes, vapor de água e ruína.
Em 1997 volto a fotografar essa estrutura (desactivada em 1988/1989) para o catálogo “Spirit House” de Marina Abramovic que aí desenvolveu trabalhos de sua autoria. O lugar conservava, ainda, a memória das suas vítimas. Ganchos pendurados, tanques para animais mortos vazios, assim como vazios de água os bebedouros. Só silêncio e o mesmo cheiro que persistia anos após o seu encerramento e desinfestação.
É, neste lugar e durante este trabalho que contraio uma febre- a que os médicos não deram nome, nem explicação- que me manteve durante mais de uma semana entre o “cá e o lá”.
Lugar de suplício, de sacrífio. Lugar que já não existe, que foi transformado, branqueado. Em “SITIO” está a ruína, a violência, o medo, a morte, a memória….
Valter Vinagre
Mucifal, Julho de 2010